Bolsonaro x Haddad: os falsos opostos de uma democracia em risco

Quando ensino pensamento crítico aos meus alunos, discutimos silogismos e falácias, exatamente o entendimento que falta no debate político atual e que gera construções assim: “Se quem anda com Bolsonaro é fascista, então que apoia o PT é corrupto”.

Primeiro, que fique claro que eu mesma tenho sérias críticas ao PT e estou longe de achar que o partido é santo. Cometeu erros sim, muitos, mas ao mesmo tempo foi quem colocou os menos favorecidos no mapa, rompendo (mesmo que muito pouco) um status quo de exploração e falta de oportunidades.

No entanto, o discurso falacioso propõe um antagonismo irreal, como se ser corrupto fosse o oposto de ser fascista. Obviamente, nenhuma das duas coisas é boa, mas quando a escolha é limitada, a resposta é ainda mais clara. Ser corrupto é um crime contra o patrimônio. Ser fascista é uma falha de caráter e um crime contra a existência de alguém. E eu me preocupo muito mais com as pessoas do que com as coisas.

Por isso, tendo que escolher entre os falsos opostos, eu não preciso pensar duas vezes pra dizer que prefiro viver em uma democracia mesmo que pudesse vir a ser altamente corrupta do que no fascismo ou em qualquer versão de extrema direita que flerte com ele.

Até porque, em um governo corrupto, mas democrático, existe espaço para protestar, para a polícia investigar, e o Estado de Direito funciona. Já um governo fascista, além de completamente desumano, pode ser igualmente corrupto – porque o fascismo não impede a corrupção. A diferença é que ninguém fica sabendo, porque a mídia é censurada, porque qualquer manifestação contra o governo é duramente reprimida, há tortura, e a voz de quem discorda é silenciada à bala…

No fim das contas, a mudança prometida, o fim da corrupção, uma nova política: nada disso que você busca vai acontecer com a vitória da extrema direita. Mudar por mudar, nesse caso, significa mudar de um governo desestruturado e virulento para um em que o direito de questionar desaparece.

A esquerda, nesse momento, pode até não ser a resposta que você queria (embora eu particularmente concorde com muito do que o professor propõe), mas é o único caminho que garante a continuação das liberdades individuais e do direto de fazer escolhas.

Todo mundo já viu que parlamentares mancomunados derrubam governos petistas, mas da última vez em que deixamos um ditador atravessar a faixa presidencial no peito, muita gente teve que dar a vida pra que você pudesse votar outra vez. A escolha agora é muito simples: #elenão.

Deixe um comentário