Sarahah: uma sala de massagem para o ego ou um convite para o bullying?

A modinha da semana é o tal do Sarahah. Minha timeline está tomada de gente compartilhando mensagens que recebeu pelo site/app. Basicamente, a plataforma permite que se deixe recados e se comente de forma anônima no perfil da pessoa. Confesso que fiquei intrigada: fui até lá, escrevi alguns recados para alguns amigos. No entanto, não disse nada que eu não diria aqui ou mesmo pessoalmente e, por isso, sai sem fazer um.

Eu acho que a modinha vai durar 10 dias, seguindo aquela famosa curva de adoção e esquecimento e, na verdade, quanto antes cair no esquecimento, melhor. Fiquei preocupada com a essência da coisa. Se de um lado ela funciona como um massageador do ego e esperamos receber declarações de crushes secretos, elogios e palavras que reforcem a nossa ideia de que somos únicos, importantes e de que fazemos algo útil, por outro, é a porta aberta para palavras tortas que vão martelar na mente muito depois que a moda passar. De nada vão adiantar os 99% de coisas queridas se 1%, vindos de sei lá quem, tocar em calos e feridas. 

É mais ou menos quando, no fim do semestre, o professor entrega aquele questionário pra ser avaliado e, apesar de todas as declarações de amor, flores e cartões que recebeu no último dia de aula, alguém escreve lá que, de 0 a 10, achou que o material disponibilizado era 6. Como 6? Pq 6? O 99,9 geral da avaliação se perde.

É como aconteceu com um post que escrevi em outra vida para um dos meus blogs e que viralizou – falando sobre a simplicidade das festas infantis na Alemanha. Somando os sites que usaram meu texto sem pedir, nas minhas últimas contas, o número de compartilhamentos já tinha passado de um milhão. E sabe do que eu lembro quando penso nisso? De alguém que comentou dizendo que, para eu ter escrito aquilo, provavelmente a minha mãe não me amava e eu nunca tive uma festa de aniversário. Sim, eu sei que a minha mãe me ama e sim, eu tive muitas festas de aniversário.

Mas os exemplos são só pra falar sobre isso: se já é complicado o suficiente viver com tantas regras e pressões que regulam o corpo, o comportamento, o consumo, o futuro, qual a vantagem de criar voluntariamente mais uma? E mesmo adorando redes sociais, eu não quero abrir essa janela na minha vida para que me atirem pedras ou beijos. Porque, na verdade, a maior conquista até agora foi a de viver me importando cada vez menos com que os outros acham certo ou errado e de (tentar diariamente) apenas ligar para a forma como eu mesma me enxergo. E isso já consome energia o suficiente. Nessa de Sarahah, sou só expectadora: to aqui comendo pipoca e vendo o circo pegar fogo.

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